78 corpos teriam sido encontrados no rio Qouweiq |
ALEPPO - Cerca de 80 corpos de jovens executados foram encontrados nesta terça-feira (29) na cidade síria de Aleppo, no mais recente massacre neste país em guerra, a algumas horas de um discurso do mediador internacional Lakhdar Brahimi na ONU.
O emissário das Nações Unidas e da Liga Árabe à Síria deveria prestar contas por volta das 20h00 GMT (18h00 de Brasília) ao Conselho de Segurança se seus esforços pôr fim a uma revolta que se transformou em uma guerra civil que deixou mais de 60.000 mortos em cerca de dois anos, segundo a ONU.
No terreno, a violência não dá trégua, com a descoberta de dezenas de corpos em Aleppo, maior cidade do norte, assolada por combates entre soldados e insurgentes.
Na escola Yarmouk, para onde foram levados os cadáveres, Abou Seif, rebelde do Exército Sírio Livre (ESL), afirmou que 78 corpos tinham sido encontrados no rio Qouweiq e que ainda restavam por volta de trinta que o ESL não tinha conseguido retirar do local em razão da presença de atiradores emboscados.
"Não sabemos quem eles são porque estão sem seus documentos de identidade", declarou um voluntário que ajudava a colocar os corpos em um caminhão. No veículo, um correspondente da AFP contou quinze cadáveres.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma rede de militantes e médicos, indicou "65 corpos não identificados encontrados em Boustane al-Kasr", bairro mantidos em poder dos rebeldes.
"Com idades em torno de 20 anos, eles foram executados com tiros na cabeça. Vestidos com roupas comuns, a maioria tinha as mãos atadas nas costas", acrescentou. Eles foram retirados do rio que separa Boustane al-Kasr e Ansari, bairro que também foi tomado pelos rebeldes.
O regime "jogou-os no rio para que chegassem à área sob nosso controle, para que as pessoas acreditassem que fomos nós que os matamos", afirmou Abou Seif.
Mas uma autoridade dos serviços de segurança afirmou à AFP que os corpos são de "cidadãos de Boustane al-Kasr que foram sequestrados por grupos terroristas depois de terem sido acusados de serem a favor do regime". O governo identifica os rebeldes como "terroristas".
Corpos jogados no rio
"Suas famílias tentaram negociar (sua libertação) várias vezes com os grupos terroristas", disse, acrescentando: "Eles foram executados na noite de segunda para terça-feira e seus corpos foram jogados no rio".
Rebeldes e regime trocam acusações por massacres, mas não é possível confirmar as informações por fontes independentes.
Em outras partes do país, os insurgentes avançaram em Deir Ezzor (leste), tomando um posto da inteligência política e de duas pontes sobre o rio Eufrates, na estrada utilizada pelo Exército para a passagem de provisões para a cidade de Hassaké, mais ao norte, indicou o OSDH.
"Se os rebeldes mantiverem seu avanço, eles conquistarão uma vitória estratégica porque a cidade é a chave de toda a província (de mesmo nome) que abriga os principais campos de petróleo e gás do país", afirmou à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.
Os rebeldes controlavam também quase toda a prisão central de Idleb (noroeste), segundo a ONG. Uma fonte dos serviços de segurança confirmou que os soldados tinham se retirado na segunda-feira à noite da prisão e que os detentos foram transferidos para as sedes dos serviços de segurança na cidade.
Em Damasco, um deputado ficou gravemente feridos na explosão de uma bomba colocada em seu carro, de acordo com o OSDH.
Segundo um registro provisório do OSDH, a violência deixou nesta terça 91 mortos: 38 civis, incluindo seis crianças, 30 soldados e 23 rebeldes.
Um dia antes do início de uma conferência de doadores no Kuwait para desbloquear recursos em favor dos civis sírios, organizações de caridade prometeram 182 milhões de dólares em ajuda e os Estados Unidos anunciaram mais 155 milhões de dólares.
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